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A Hora da Divina Misericórdia – 15 horas

Na correria do mundo moderno – ou pós-moderno – é perigoso perdermos de vista o valor eterno de cada momento que vivenciamos. Quem é mais antigo talvez se recorde dos sinos que badalavam indicando algumas horas e convidando os trabalhadores a voltarem o seu coração para os Céus, ao menos por uns instantes. Tal costume ainda persiste em muitos lugares, e pode muito nos ajudar a viver aquilo que o sábio já dizia: “Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu” (Ecle 3,1).

De fato, os cristãos, desde os primórdios, procuraram paulatinamente santificar as diversas horas do dia (uma tradição de origem judaica), e por isso, por exemplo, a Escritura nos relata que “Pedro e João subiam ao templo à hora da oração, às quinze horas” (At 3,1).

Uma das categorias mais importantes que encontramos na Sagrada Escritura – ao lado de “aliança”, “misericórdia” etc. – é justamente “memória”. Deus não se esquece do ser humano e o ser humano é convidado a não se esquecer daquilo que o Senhor realizou em seu favor, transformando estas lembranças em fonte para a espiritualidade e as celebrações, tanto individual como coletiva.

É por isso que os grandes momentos da história da salvação – a Páscoa do povo hebreu e a Páscoa de Cristo – incluem um claro apelo: “Este dia será para vós um memorial…” (Êx 12,14); “Fazei isto em minha memória” (“anámnesin”: Lc 22,19). Dentre todos os instantes da história, certamente um merece ser recordado – segundo nosso calendário e os estudos atuais, era o dia 8 de abril do ano 30 d.C., às 3 horas da tarde, fora dos muros de Jerusalém… A hora da misericórdia divina por excelência!

Após 3 anos de intenso ministério, e após 3 horas de intensa agonia, Nosso Senhor Jesus Cristo consumou a sua obra de misericórdia em prol do gênero humano. Esta é a “Hora” de Jesus por excelência, tão desejada por Ele, conforme se lê pelo menos 10 vezes em S. João: “Ainda não chegou a minha hora” (Jo 2,4; cf. 4,23; 7,30; 8,20); “É chegada a hora de ser glorificado o filho do homem” (Jo 12,23; cf. 12,27; 13,1; 16,4; 16,32; 17,1). Aquele momento foi extraordinário, com repercussões também no mundo físico:

“Chegada a hora sexta [12h] houve trevas sobre a terra inteira até a hora nona [15h]” (Mc 15,33) – ao dar um grande grito: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46), expirou – e então o véu do Templo se rasgou, as rochas se fenderam e muitos corpos dos santos falecidos ressuscitaram (Mt 27,51s).

A história da Igreja está repleta de homens e mulheres que procuravam viver intensamente os mistérios da vida de Jesus. Dentre elas, modernamente se destaca Santa Faustina Kowalska (+1938), que foi associada pelo próprio Jesus ao seu mistério pascal como raramente se encontra na hagiografia cristã (outros exemplos seriam o de S. Gema Galgani, S. Padre Pio etc.).

Ele deixou claro que a meditação sobre a sua Paixão é uma fonte inesgotável de bênçãos para o indivíduo: “Concedo as graças mais abundantes às almas que meditam piedosamente sobre a Minha Paixão” (D 737). Deste modo, a hora da sua entrega por nós na cruz – 3 horas da tarde – foi-se tornando um elemento distintivo na espiritualidade da santa polonesa e assim no movimento que, sem saber, estava-se iniciando.

Ao longo de 4 anos (1935-1938) o próprio Jesus lhe foi instruindo a respeito desta hora sagrada:

Em 1935 descreve uma belíssima vivência mística: “Na Sexta-feira Santa, às três horas da tarde, quando entrei na capela, ouvi estas palavras: Desejo que a Imagem seja venerada publicamente. Então vi Jesus agonizando na cruz em grandes dores, e do Seu Coração saindo os mesmos dois raios, tal como na Imagem” (D 414).

Em 1936 se lê: “Sexta-feira Santa. Às três horas vi Jesus crucificado, que olhou para mim e disse: Tenho sede. — Então, vi que do Seu lado saíam os mesmos dois raios que estão na Imagem. Então, senti na alma um desejo de salvar almas e de aniquilar-me pelos pobres pecadores. Ofereci-me em sacrifício ao Pai Eterno pelo mundo inteiro, com Jesus agonizante” (D 648).

Em 1937, também na Sexta-feira Santa: “Às três horas rezei, com os braços estendidos, pelo mundo todo. Jesus já estava terminando Sua vida como mortal. Ouvi Suas sete palavras, depois olhou para mim e disse: Querida filha do Meu Coração, tu és Meu alívio em meio aos terríveis tormentos” (D 1058).

No final daquele ano, Jesus pediu:

“Às três horas da tarde, implora à Minha misericórdia especialmente pelos pecadores e, ao menos por um breve tempo, reflete sobre a Minha Paixão, especialmente sobre o abandono em que Me encontrei no momento da agonia. Esta é a Hora de grande misericórdia para o Mundo inteiro. Permitirei que penetres na Minha tristeza mortal. Nessa hora nada negarei à alma que Me pedir pela Minha Paixão…” (D 1320).

No ano da morte de S. Faustina (1938), o Senhor completou a sua instrução sobre a hora da misericórdia:

“Lembro-te, Minha filha, que todas as vezes que ouvires o bater do relógio, às três horas da tarde, deves mergulhar toda na Minha misericórdia, adorando-A e glorificando-A. Implora a onipotência dela em favor do Mundo inteiro e especialmente dos pobres pecadores, porque nesse momento foi largamente aberta para toda a alma. Nessa hora, conseguirás tudo para ti e para os outros. Nessa hora, realizou-se a graça para todo o Mundo: a misericórdia venceu a justiça. Minha filha, procura rezar, nessa hora, a Via-sacra, na medida em que te permitirem os teus deveres, e se não puderes fazer a Via-sacra, entra, ao menos por um momento na capela e adora o Meu Coração, que está cheio de misericórdia no Santíssimo Sacramento. Se não puderes sequer ir à capela, recolhe-te em oração onde estiveres, ainda que seja por um breve momento. Exijo honra à Minha misericórdia de toda criatura, mas de ti em primeiro lugar, porque te dei a conhecer mais profundamente esse mistério” (D 1572).

Destes ensinamentos se pode depreender que Jesus deseja que às 3 horas da tarde:

 

1) Façamos uma parada para clamar a misericórdia divina pelos pecadores do mundo inteiro (naturalmente nos incluindo nesta oração!);

 

2) Recordemos na fé o seu sofrimento por nós (físico, psicológico e espiritual), e ipso facto a sua cruz;

 

3) Não apenas devemos pedir a misericórdia, mas glorificar este excelentíssimo atributo divino;

 

4) Este momento de oração pode ser realizado em qualquer lugar em que estivermos, e quem o puder procure rezar numa igreja ou oratório;

 

5) Recomenda-se explicitamente a Via-Sacra, mas pode ser utilizada qualquer oração, como p. ex. o terço da divina misericórdia.